A lesão no quadril do tenista Andy Murray. O impacto femoroacetabular, a artroscopia, a prótese de quadril do tipo “resurfacing”, e o retorno vitorioso às quadras.

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Andy Murray é um tenista britânico de altíssimo nível. Mesmo jogando com grandes gênios do esporte como Roger Federer, Rafael Nadal e Novack Djokovic, ele já foi número 1 do mundo, ganhou 3 Grand Slams, 1 ATP finals e foi campeão olímpico por 2 vezes.

Ele é um tenista multicampeão, mas apesar disso, seu maior desafio não foi dentro das quadras. Durante os jogos e treinamentos, Andy Murray começou a apresentar uma dor no quadril direito, que foi progredindo em duração e intensidade, até que se tornou diária. Esta dor o limitava para suas atividades esportivas e, em um certo momento, causava sofrimento até mesmo para pequenas atividades  diárias, como colocar suas meias , ou passear com seu cachorros.

A doença de Andy Murray, se chama impacto femuroacetabular (IFA). Está é uma síndrome, na qual existe um impacto na articulação do quadril, entre o fêmur e o acetábulo, que é a parte da bacia onde ele se encaixa. Esta síndrome é a mesma que acometeu o maior tenista brasileiro de todos os tempos,Guga, mas o entendimento e tratamento desta lesão melhoraram muito desde então.

Na verdade, esta lesão não é tão comum em tenistas, já que esta condição é acentuada em esportes com grande flexão forçada do quadril, como artes marciais, rugby, ou ginástica artística.

Inicialmente, ele tentou o tratamento conservador, o que deve ser feito na grande maioria dos pacientes, mas isso não deu certo.

A primeira cirurgia que ele foi submetido, foi uma artroscopia de quadril. Esta é uma cirurgia menos invasiva, porém, existem limites técnicos para sua realização, principalmente se o quadril já possui alterações degenerativas irreversíveis, com osteoartrose estabelecida. Este procedimento não foi o suficiente para Andy Murray resolver sua dor e suas limitações para atividade física.

A última cirurgia realizada em Andy Murray foi um tipo especial de prótese de quadril, chamada de “resurfacing” ou prótese de recapeamento do quadril.  Esta foi a mesma cirurgia realizada no tenista número um do mundo em duplas Bob Bryan. A cirurgia de Bob Bryan foi bem sucedida, e  ele voltou a jogar um Grand Slam 5 meses após sua cirurgia. Isto serviu de estímulo para a realização da cirurgia em Andy Murray.

Agora, já que esta cirurgia foi feita com tanto sucesso nestes tenistas, por quê não realizá- la sempre? Na verdade, não existem garantias do resultado final. Apesar de Bob Bryan e Andy Murray jogarem tênis, na verdade eles praticam esportes totalmente diferentes. O jogo de duplas não exige a mobilidade e elasticidade de uma partida de simples. Isto deve ser considerado e explicado detalhadamente ao paciente que deseja retornar a  jogar tênis. Talvez hoje, o jogo de duplas seja o limite aceitável para um paciente com prótese de quadril.


Pode-se dizer que a cirurgia permitiu um renascimento de Andy Murray, não apenas para o esporte, mas para suas atividades diárias, como andar, se vestir ou brincar com seus filhos,  que se tornaram atividades extremamente dolorosas no passado. Hoje ele voltou a sorrir e consegue realizar as atividades que mais gosta.

O ponto de alto de sua reabilitação foi seu retorno às quadras de tênis. Ele não só voltou a jogar um torneio oficial de tênis, como foi o campeão de duplas do torneio de Queen’s em Londres, ao lado do tenista espanhol Feliciano Lopes que também foi campeão de simples.

Agora, se a cirurgia de “resurfacing” é tão boa , por quê não é indicada para todos os atletas e outros pacientes que desejam voltar ao esporte?

A verdade é que nem tudo são flores.

A cirurgia de “resurfacing” foi desenvolvida com o objetivo de ser uma prótese para pacientes jovens , com atividades de maior impacto que os pacientes que normalmente realizam esta cirurgia. Esta é uma  prótese de superfície metal/ metal, ou seja , existe o atrito entre duas superfícies metálicas, que a princípio teriam um menor desgaste, mas que podem levar à formação de partículas a ao aumento de níveis de metal no corpo. Além disso, existe um risco de fratura do colo femoral e um risco real de reações adversas locais , como pseudotumores que podem levar à uma cirurgia de revisão precoce. Existem relatos de câncer e até de doença psiquiátrica relacionada a este procedimento. Os índices de soltura desta prótese também são mais altos do que o normal. Já houve recall deste tipo de prótese, e hoje em dia, menos de 1% do total de cirurgias de prótese de quadril são do tipo “resurfacing”

Além disso, nenhuma prótese dura para sempre. Elas  têm uma duração média entre 10 e 20 anos, sendo que em atletas de alto impacto este tempo pode ser menor, e a segunda cirurgia pode ser maior do que a primeira. Este é um procedimento que normalmente não é feito em atletas de alta performance,  e não sabemos exatamente como será sua duração em atletas que fazem atividades de alto impacto como tenistas profissionais. Não podemos indicar este procedimento para todos os atletas, livres de riscos e consequências.

Sem dúvida, os procedimentos de artroplastia de quadril, têm evoluído muito nos últimos anos, mas qual o limite e melhor indicação desta cirurgia em atletas de ponta? Só o tempo dirá. O importante é saber os potenciais riscos e benefícios deste procedimento e escolher o melhor para cada tipo de paciente.

Dr. Daniel Rebolledo é ortopedista e traumatologista especializado em Oncologia Ortopédica e Cirurgia do Quadril.
Ele dedica seu tempo para o atendimento e cirurgias de seus pacientes, e o estudo destas patologias.

 

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O Dr. Daniel é Oncologista Ortopédico  e Especialista em Cirurgia do Quadril, tendo grande reconhecimento nessa área pelo Brasil e mundo afora. Hoje ele é credenciado e realiza cirurgias em Hospitais famosos como: Albert Einstein, Hospital Sírio-Libanes, Oswaldo Cruz e Hospital Santa Catarina, sendo referência no tratamento de problemas oncológicos ortopédicos e também como Especialista em cirurgia do quadril.

Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)
Membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Ortopédica
Membro da Sociedade Internacional de Salvamento de Membro (ISOLS)
Médico Assistente do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)
Médico Consultor do Grupo de Oncologia Ortopédica do Hospital Mário Covas da Faculdade de Medicina do ABC
Membro da diretoria da Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica