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Impacto Fêmoro Acetabular do Quadril (IFA)

O impacto fêmoro Acetabular é uma das causas principais de osteoartrose de quadril, especialmente em pacientes jovens e ativos.

O impacto fêmoro Acetabular é uma anormalidade anatômica do quadril.Ela é caracterizada por um contato anormal e precoce entre o fêmur e seu encaixe na bacia, que é chamado de acetábulo.

Isto ocorre por um crescimento ósseo anormal no colo femoral que perde sua esfericidade , ou no rebordo do acetábulo. Na maioria dos casos, ambas as deformidades estão presentes.

Como não há um encaixe perfeito dos ossos na articulação, eles começam a friccionar durante o movimento. Esta fricção pode danificar a cartilagem articular, causando dor, limitação e desgaste precoce.

Durante atividades esportivas, ou mesmo atividades cotidianas, o contato entre estas estruturas ocorre, podendo levar a lesões irreversíveis de cartilagem ou do labrum acetabular, que é uma estrutura ligamentar que reveste o acetábulo. Isto resulta na degeneração da articulação e posterior artrose.

No início do quadro, podem não existir alterações radiográficas evidentes, por isso é importante uma avaliação minuciosa do quadro para verificar se o quadro de impacto femoroacetabular está presente.

PerguntasFrequentes

Qual o perfil do paciente que tem impacto femoroacetabular? O que ele sente?

Os pacientes com impacto femoroacetabular normalmente são jovens, entre 20 e 40 anos.

É comum que exista uma rigidez da articulação do quadril antes do sintoma doloroso.

Normalmente os pacientes têm dor na região da virilha, que piora  com flexão e rotação interna do quadril. Eles têm dificuldade de ficar longos períodos na posição sentada , ou sentem dores após atividades físicas.

Quais são os exames que podem auxiliar no diagnóstico da síndrome do impacto do quadril?

Os exames de imagem são fundamentais para avaliação de pacientes com suspeita de impacto.

Inicialmente, são descartados outros diagnósticos de dor no quadril, como osteonecrose, artrite reumatóide, artrose  ou outras patologias.

Radiografias devem incluir no mínimo duas incidências para avaliação da anatomia óssea da articulação.

Ressonância magnética pode identificar lesões que não podem ser verificadas na radiografia, como lesões de cartilagem, lesões labrais e outras lesões.

A Tomografia Computadorizada com reconstrução 3D é um ótimo exame para avaliação das possíveis deformidades ósseas femorais e acetabulares.

Quais são os tipos de impacto do quadril?

Existem 3 tipos de impacto femoroacetabular de acordo com a alteração anatômica predominante.

Eles são chamados de : pincer , cam e impacto combinado.

  • Pincer: Este tipo de impacto ocorre por uma proeminência na região da borda do acetábulo. Este tipo é mais comum em mulheres e leva a lesões no labrum acetabular e na cartilagem.
  • Cam: Este tipo de impacto é mais comum em homens e é caracterizado por uma deformidade da transição do colo e da cabeça femoral. Esta deformidade é uma espécie de “lombada” na região anterolateral do colo femoral. Neste caso, a cabeça femoral perde sua esfericidade e começa a impactar no acetábulo  durante o movimento de flexão do quadril.
  • Combinado: Neste tipo de impacto temos as duas deformidades presentes, tanto a acetabular do tipo “pincer” como

 

Cuidado!

É importante lembrar que 30% das população têm alterações radiográficas do quadril  com formato semelhante ao dos pacientes com impacto, mas são pessoas assintomáticas, ou seja, a simples alteração da radiografia não é suficiente para diagnosticar a síndrome do impacto.

Quais as causas da síndrome do impacto do quadril?

Não existe uma única causa para a síndrome do impacto do quadril, ou seja, ela é multifatorial. Dentre as principais causas, podemos citar:

  • Alterações anatómicas do desenvolvimento do quadril, sendo a alteração do tipo “Cam” mais comum em homens, e a alteração do tipo “pincer” mais comum em mulheres.
  • Exposição a atividades com intensa flexão e rotação dos quadris durante a infância e adolescência (ex: tênis, ginástica artística, artes marciais) , podendo levar à alterações adaptativas do quadril que podem favorecer ao impacto.
  • História de doenças do quadril na infância como epifisiolistese e doença de Legg- Calvé- Perthes.
  • Sequelas de fraturas de colo de fêmur, com deformidade residual.
  • Sequelas de cirurgia para correção de displasia do quadril.

Quais os sintomas da síndrome do impacto do quadril?

Os sintomas mais comuns da síndrome do impacto são:

  • Dor.
  • Rigidez articular.
  • Claudicação (mancar para andar).
  • Estralidos.
  • Sensação de “quadril travado”.

A dor ocorre na região da virilha, mas pode  irradiar para a face lateral, púbis e região glútea. Ela pode ocorrer de forma aguda e lancinante em movimentos de flexão e rotação do quadril , ou se manifestar como uma dor “cansada” e persistente.

Exame físico

Seu médico fará o exame físico completo do quadril para confirmar a hipótese diagnóstica de impacto e descartar outras possíveis causas.

O teste mais característico é o FADIR (flexão/ adução/ rotação interna). Neste caso, o médico irá fazer esse movimento. Caso o paciente apresente dor, o resultado será positivo.

Exames diagnósticos

Radiografia simples: exame básico inicial, em que muitas vezes já podem ser observadas as alterações de “cam” e pincer.

Tomografia Computadorizada: auxilia na visualização das alterações anatômicas e no planejamento cirúrgico. A Tomografia 3D potencializa o entendimento da alteração anatômica.

Ressonância magnética: é o melhor exame para diagnóstico de lesões de cartilagem e lesões labrais, assim como processos inflamatórios de de partes moles.

Infiltração: em casos em que a dúvida diagnóstica permanece, pode ser feita uma infiltração de anestésico dentro da articulação do quadril. Caso haja melhora da dor, isto significa que a articulação é a fonte de dor.

Diagnóstico Diferencial

A síndrome do impacto por ser confundida com outras patologias da região do quadril. Podemos citar:

  • Hérnia inguinal.
  • Osteoartrose de quadril.
  • Osteonecrose de quadril.
  • Tendinopatia do músculo iliopsoas.
  • Infecção
  • Tumores
  • Pubalgia
  • Fratura por estresse

Qual o tratamento da síndrome do impacto do quadril?

O tratamento da síndrome do impacto pode ser dividido em tratamento clínico (não- operatório) e cirúrgico.

Tratamento clínico

Na maioria dos casos iniciamos o tratamento com medidas conservadoras e não cirúrgicas.

Mudança de hábitos: o entendimento do paciente sobre sua patologia e sobre as atividades que causam dor, pode ajudar na modificação de hábitos, esportes e posicionamentos não saudáveis para a articulação do quadril.

Medicamentos anti- inflamatórios e analgésicos: vão ajudar no alívio dos sintomas dolorosos e na diminuição do processo inflamatório.

Fisioterapia: importante na diminuição da dor e inflamação, na melhora dos alongamentos e do fortalecimento muscular que pode beneficiar o paciente.

Infiltrações  e Viscossuplementação: no caso de sintomas leves a moderados, ou dúvida diagnóstica, a infiltração com anestésico pode ajudar no esclarecimento diagnóstico e alívio das dores. A viscossuplementação com ácido hialurônico , melhora a viscosidade da articulação e na distribuição de nutrientes para a cartilagem articular.

Tratamento cirúrgico

Caso exista uma alteração anatômica evidente, e o paciente não tenha uma melhora satisfatória com o tratamento conservador, a cirurgia poderá ser indicada. O procedimento a ser realizado vai depender do tipo de impacto do paciente,  e dos achado intraoperatórios. O tipo de técnica cirúrgica, também pode variar, podendo ser utilizadas as técnicas de artroscopia e a técnica de tratamento por cirurgia aberta do tipo “mini open”.

Artroscopia de Quadril.

A artroscopia de quadril é a técnica mais moderna e menos invasiva para correção do impacto femoroacetabular. Nesta técnica, são feitas pequenas incisões no quadril, por onde é colocada uma câmera e instrumentos por onde se podem fazer as correções anatômicas do colo do fêmur, cartilagem, labrum e rebordo acetabular.

Os problemas da artroscopia estão relacionadas à tração exercida na articulação para realização da cirurgia, e principalmente à falta de correção dos defeitos anatômicos.

Cirurgia aberta do tipo “mini open”

Neste caso, é feita uma incisão tradicional, porém de pequeno tamanho, e sem cortes na musculatura. Pode ser feita a artroscopia no mesmo tempo cirúrgico para melhor visualização da articulação, mas os procedimentos de correção anatómicos são feitos com visão direta.

Este tipo de técnica tem a desvantagem de ser realizada com uma incisão maior, mas tem as vantagens de não precisar de longo tempo de tração da articulação, e permitir uma correção maior e mais adequada dos defeitos anatômicos do quadril  sem necessitar de um tempo de reabilitação maior do que a artroscopia.

Como é a reabilitação da cirurgia para síndrome do impacto do quadril?

Nas primeiras 3 semanas após a cirurgia, os objetivos são proteger os pontos da cirurgia, diminuir a inflamação e manter o tônus muscular. O paciente pode andar com carga parcial no membro operado, mas tem restrição para determinados movimentos do quadril.

Após 3 semanas, os objetivos são progredir a carga na marcha e aumentar o arco de movimento de acordo com o limite de dor. Entre 6 e 8, inicia-se a fase para condicionamento muscular total e retorno ao padrão de marcha fisiológico. São iniciados os exercícios funcionais e alguns treinos de condicionamento leve.

Entre 10 e 12 semanas são iniciados exercícios leves no ambiente esportivo do paciente, corridas leves e retorno pleno de arco de movimento e força.

O retorno às atividades esportivas vai depender da evolução nas fases de reabilitação.

Síndrome do impacto do quadril tem cura?

Não existem evidências de longo prazo, de que a cirurgia para impacto femoroacetabular prolongue a vida útil da articulação, porém, ainda é a melhor alternativa para controle de dor e preservação da articulação nos pacientes que não tiveram evolução satisfatória com tratamento conservador.

É importante lembrar que , quanto menor o desgaste articular, melhor o resultado da cirurgia. Por isso, ela deve ser indicada preferencialmente em pacientes jovens, sintomáticos, mas ainda com um grau leve a moderado de desgaste articular.

Outro fato importante, é de que não devemos operar todos os pacientes que têm alteração anatómica de impacto, se os mesmos forem assintomáticos ou pouco sintomáticos, já que não existe evidência de que a cirurgia previna o aparecimento de artrose no quadril.

Dr. Daniel Rebolledo

  • Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)
  • Membro da Sociedade Internacional de Salvamento de Membro (ISOLS)
  • Médico Assistente do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)
  • Médico Consultor do Grupo de Oncologia Ortopédica do Hospital Mário Covas da Faculdade de Medicina do ABC
  • Membro da Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica (ABOO)
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